Problemas nos distraem e nos atrapalham no que precisamos de fato fazer. Não falo de problemas e dificuldades intrínsecos à uma atividade. Acredito que mais uma vez que o tema “intrínsecos e extrínsecos” entra em cena.
No livro “The War of Art” (Steven Pressfield, 2002) nos são apresentados os pensamentos de um artista – escritor – que ao longo de sua trajetória na arte, enfrentou aquilo que ele chamou de Resistência. Para Pressfield, Resistência é tudo aquilo que impede o artista de criar sua arte, mais precisamente: que impede o artista de trabalhar diária e consistentemente naquilo que ele sinceramente acredita que seja bom.
Segundo Pressfield, uma das faces da Resistência são os problemas/dificuldades nas quais o artista pode se meter seja como esquiva explícita frente ao trabalho artístico, seja como “recompensa” extrínseca por ter conseguido se manter engajado em trabalhar na arte por algumas horas ou dias seguidos. Recompensa esta que tende a deixar rapidamente a função de recompensa para ser hábito que atrapalha o trabalho do artista, tal qual engordar atrapalha o desempenho do tenista diminuindo sua agilidade e condicionamento.
Tanto a esquiva quanto a falsa recompensa tendem a aparecer, segundo a experiência de Pressfield, no formato de adicção à drogas, doenças derivadas da falta de autocuidado, neuroses, descontroles alimentares, afetivos e sexuais, e tudo o que suga a atenção sem custo, sem dor, artificial e agradavelmente. Para Pressfield esses movimentos são manifestações da Resistência.
Esses elementos extrínsecos à arte criam impedimentos para a realização do trabalho do artista uma vez que podem começar a funcionar como distratores encaixados na rotina por meio de encadeamento de respostas e justificados racionalmente. O cérebro passa a responder diferentemente, aos poucos tolerando cada vez mais problemas e dificuldades desnecessários, inclusive começa a manejar o ambiente para que eles sejam perpetuados (o cérebro ama previsibilidade). Tudo pela mera expansão de repertórios comportamentais extrínsecos a arte.
Em algum momento do livro você já não consegue distinguir se o autor está falando sobre as dificuldades psicológicas de ser um artista ou sobre as dificuldades e resistências que todos temos acerca da vida e do viver intencional.
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